sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Desafios lá pra casa


Palavras: lagar, primos, centro comercial, bicicleta, Ferrari

            Um dia, estava no lagar dos meus avós a observar os bichos que eu tinha apanhado no dia anterior, e que estavam arrumados em caixas para eu levar para a aula de Ciências, quando, de repente, chegaram os meus tios e primos de Lisboa.
            Aconteceu tudo tão rápido que nem tive tempo de os receber da melhor forma. Eles tinham vindo da grande cidade, e claramente não estavam habituados às coisas da aldeia, por isso, a princípio, não entendi bem por que estavam ali. Vieram porque os meus tios iam fazer uma viagem para fora do país, e precisavam de alguém para tomar conta dos meus primos.
            Desde pequeno que moro com os meus avós, pois os meus pais faleceram quando eu era muito pequeno. Por esse motivo, eu não tenho muitos amigos na escola, sou muito tímido, não falo com ninguém, nem com os meus próprios primos. Não estava, assim, muito entusiasmado para os conhecer melhor.
            Por obrigação da minha avó, todos comemos um bocado de carne e uma fatia muito grossa de pão. Logo depois, os meus tios foram para a sua viagem, deixando os primos na nossa casa.
            Após os meus tios terem ido embora, fui ajudar os meus primos a arrumar as malas no quarto onde eles iam dormir. Para dizer a verdade, fui eu quem fiz tudo, pois eles estavam mais empenhados em mandar mensagens e ver se a casa tinha internet.
            Os primos, pelos vistos, eram muitos populares na escola deles, só por causa do número de seguidores que tem nas redes sociais. Claro que a casa dos meus avós não tinha internet e eu não fazia ideia do que eles diziam, pois só falavam palavras esquisitas que eu nunca tinha ouvido na minha vida. Para mim aquilo era chinês.
            Nesse dia não fizemos mais nada. Eles disseram que estavam muito cansados e que precisavam de dormir. Achei que era uma brincadeira, pois eram férias de verão, e toda a gente dorme até ao meio dia, mas não era uma brincadeira.
            No dia seguinte eles acordaram mais cedo que os meus avós. Fizeram tanto barulho que toda a gente acordou, até os animais.
            Passadas duas horas conseguimos, finalmente, sair de casa. Nunca tinha conhecido ninguém que demorasse tanto tempo na casa de banho. O problema era para onde iriamos passar o resto da tarde, porque na aldeia não há nada de especial para fazer, bom pelo menos no ponto de vista deles. Por mim, íamos jogar futebol ou brincar com os cães, mas o problema eram eles.
Já tínhamos saído de casa quando me perguntaram se havia um centro comercial perto da aldeia. Eu respondi que havia um, mas era muito pequeno e era um pouco longe da nossa casa. Eles ficaram um pouco mais felizes, mas tristes depois de dizer que teríamos que ir de bicicleta. Rapidamente me questionaram se nós tínhamos um carro, mas por muita pena minha só tínhamos um trator. Não percebi a pergunta que me fizeram, pois eles não tinham idade para ter carta, quanto mais conduzir. Eu é que desde pequeno sempre sonhei em poder conduzir um carro, tipo um Ferrari, ou uma outra máquina. Mas adiante!
Fomos ao centro comercial de autocarro e, quando lá chegámos, fomos logo almoçar. Após longas conversas, algumas banais com os meus primos, fomos ficando cada vez mais amigos. Senti pela primeira vez a sensação de ter um amigo!
Depois do almoço fiz-lhes uma «visita guiada» pelo centro e, mais tarde, fomos para casa.
Nessa noite quase não dormi. Estive a pensar que os meus primos eram os primeiros e únicos amigos! Estava com medo de nunca mais os ver e de eles se esquecerem de mim para sempre.
O inevitável chegou, a partida dos meus primos!
De manhã, despedimo-nos uns dos outros e, com muita infelicidade, eles partiram para a cidade. Esse dia foi inesquecível para mim. Já os meus primos não se esqueceram de mim, pelos vistos, eles adoraram a cidade e vêm visitar-me sempre que podem. Eles explicaram- me as palavras esquisitas deles, já não se importavam tanto com as redes sociais, brincavam comigo e, acima de tudo, somos os melhores amigos.  

Beatriz Varandas Ferreira, 8º B 
Professora Salete Valente

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