quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
É NOTICIA
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
AJUDAR A CONSTRUIR PONTES DA VIDA
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Presépios
BERLIN - exposição
sábado, 2 de dezembro de 2017
Vicente, in Bichos de Miguel Torga
Vicente, in Bichos de Miguel Torga - 8º ano
Naquela
tarde, à hora em que o céu se mostrava mais duro e mais sinistro, Vicente abriu
as asas negras e partiu. Quarenta dias eram já decorridos desde que, integrado
na leva dos escolhidos, dera entrada na Arca. Mas desde o primeiro instante que
todos viram que no seu espírito não havia paz. Calado e carrancudo, andava de
cá para lá numa agitação contínua, como se aquele grande navio onde o Senhor
guardara a vida fosse um ultraje à criação. Em semelhante balbúrdia - lobos e
cordeiros irmanados no mesmo destino -, apenas a sua figura negra e seca se
mantinha inconformada com o procedimento de Deus. Numa indignação silenciosa,
perguntava: - a que propósito estavam os animais metidos na confusa questão da
torre de Babel? Que tinham que ver os bichos com as fornicações dos homens, que
o Criador queria punir? Justos ou injustos, os altos desígnios que determinavam
aquele dilúvio batiam de encontro a um sentimento fundo, de irreprimível
repulsa. E, quanto mais inexorável se mostrava a prepotência, mais crescia a
revolta de Vicente.
Quarenta
dias, porém, a carne fraca o prendeu ali. Nem mesmo ele poderia dizer como
descera do Líbano para o cais de embarque e, depois, na Arca, por tanto tempo
recebera das mãos servis de Noé a ração quotidiana. Mas pudera vencer-se.
Conseguira, enfim, superar o instinto da própria conservação, e abrir as asas
de encontro à imensidão terrível do mar.
A
insólita partida foi presenciada por grandes e pequenos num respeito calado e
contido. Pasmados e deslumbrados, viram-no, temerário, de peito aberto,
atravessar o primeiro muro de fogo com que Deus lhe quis impedir a fuga,
sumir-se ao longe nos confins do espaço. Mas ninguém disse nada. O seu gesto
foi naquele momento o símbolo da universal libertação. A consciência em
protesto activo contra o arbítrio que dividia os seres em eleitos e condenados.
Mas
ainda no íntimo de todos aquele sabor de resgate, e já do alto, larga como um
trovão, penetrante como um raio, terrível, a voz de Deus:
-
Noé, onde está o meu servo Vicente?
Bípedes
e quadrúpedes ficaram petrificados. Sobre o tombadilho varrido de ilusões,
desceu, pesada, uma mortalha de silêncio.
Novamente
o Senhor paralisara as consciências e o instinto, e reduzia a uma pura
passividade vegetativa o resíduo da matéria palpitante.
Noé,
porém, era homem. E, como tal, aprestou as armas de defesa.
-
Deve andar por aí... Vicente! Vicente! Que é do Vicente?!... Nada.
-
Vicente!... Ninguém o viu? Procurem-no!
Nem
uma resposta. A criação inteira parecia muda.
-
Vicente! Vicente!. Em que sítio é que ele se meteu?
Até
que alguém, compadecido da mísera pequenez daquela natureza, pôs fim à comédia.
-
Vicente fugiu...
-
Fugiu?! Fugiu como?
-
Fugiu... Voou...
Bagadas
de suor frio alagaram as têmporas do desgraçado. De repente, bambearam-lhe as
pernas e caiu redondo no chão.
Na
luz pardacenta do céu houve um eclipse momentâneo. Pelas mãos invisíveis de
quem comandava as fúrias, como que passou, rápido, um estremecimento de
hesitação.
Mas
a divina autoridade não podia continuar assim, indecisa, titubeante, à mercê da
primeira subversão. O instante de perplexidade durou apenas um instante. Porque
logo a voz de Deus ribombou de novo pelo céu imenso, numa severidade
tonitruante.
-
Noé, onde está o meu servo Vicente?
Acordado
do desmaio poltrão, trémulo e confuso, Noé tentou justificar-se.
-
Senhor, o teu servo Vicente evadiu-se. A mim não me pesa a consciência de o ter
ofendido, ou de lhe haver negado a ração devida. Ninguém o maltratou aqui. Foi
a sua pura insubmissão que o levou... Mas perdoa-lhe, e perdoa-me também a
mim... E salva-o, que, como tu mandaste, só o guardei a ele...
-
Noé!... Noé!....
E
a palavra de Deus, medonha, toou de novo pelo deserto infinito do firmamento.
Depois, seguiu-se um silêncio mais terrível ainda. E, no vácuo em que tudo
parecia mergulhado, ouvia-se, infantil, o choro desesperado do Patriarca, que
tinha então seiscentos anos de idade.
Entretanto,
suavemente, a Arca ia virando de rumo. E a seguir, como que guiada por um
piloto encoberto, como que movida por uma força misteriosa, apressada e firme -
ela que até ali vogara indecisa e morosa ao sabor das ondas -, dirigiu-se para
o sítio onde quarenta dias antes eram os montes da Arménia.
Na
consciência de todos a mesma angústia e a mesma interrogação. A que represálias
recorreria agora o Senhor? Qual seria o fim daquela rebelião?
Horas
e horas a Arca navegou assim, carregada de incertezas e terror. Iria Deus
obrigar o corvo a regressar à barca? Iria sacrificá-lo, pura e simplesmente,
para exemplo? Ou que iria fazer? E teria Vicente resistido à fúria do vendaval,
à escuridão da noite e ao dilúvio sem fim? E, se vencera tudo, a que paragens
arribara? Em que sítio do universo havia ainda um retalho de esperança?
Ninguém
dava resposta às próprias perguntas. Os olhos cravavam-se na distância, os
corações apertavam-se num sentimento de revolta impotente, e o tempo passava.
Subitamente,
um lince de visão mais penetrante viu terra. A palavra, gritada a medo, por
parecer ou miragem ou blasfémia, correu a Arca de lês a lês como um perfume. E
toda aquela fauna desiludida e humilhada subiu acima, ao convés, no alvoroço
grato e alentador de haver ainda chão firme neste pobre universo.
Terra!
Nem planaltos, nem veigas, nem desertos. Nem mesmo a macicez tranquilizadora
dum monte. Apenas a crista de um cerro a emergir das vagas. Mas bastava. Para
quantos o viam, o pequeno penhasco resumia a grandeza do mundo. Encarnava a
própria realidade deles, até ali transfigurados em meros fantasmas flutuantes.
Terra! Uma minúscula ilha de solidez no meio dum abismo movediço, e nada mais
importava e tinha sentido.
Terra!
Desgraçadamente, a doçura do nome trazia em si um travor. Terra... Sim, existia
ainda o ventre quente da mãe. Mas o filho? Mas Vicente, o legítimo fruto
daquele seio?
Vicente,
porém, vivia. À medida que a barca se aproximava, foi-se clarificando na
lonjura a sua presença esguia, recortada no horizonte, linha severa que
limitava um corpo, e era ao mesmo tempo um perfil de vontade.
Chegara!
Conseguira vencer! E todos sentiram na alma a paz da humilhação vingada.
Simplesmente,
as águas cresciam sempre, e o pequeno outeiro, de segundo a segundo, ia
diminuindo.
Terra!
Mas uma porção de tal modo exígua, que até os mais confiados a fixavam
ansiosamente, como a defendê-la da voragem. A defendê-la e a defender Vicente,
cuja sorte se ligara inteiramente ao telúrico destino.
Ah,
mas estavam «rotas as fontes do grande abismo e abertas as cataratas do céu»! E
homens e animais, começaram a desesperar diante daquele submergir irremediável
do último reduto da existência activa. Não, ninguém podia lutar contra a
determinação de Deus. Era impossível resistir ao ímpeto dos elementos,
comandados pela sua implacável tirania.
Transida,
a turba sem fé fitava o reduzido cume e o corvo pousado em cima. Palmo a palmo,
o cabeço fora devorado. Restava dele apenas o topo, sobre o qual, negro,
sereno, único representante do que era raiz plantada no seu justo meio,
impávido, permanecia Vicente. Como um espectador impessoal, seguia a Arca que
vinha subindo com a maré. Escolhera a liberdade, e aceitara desde esse momento
todas as consequências da opção. Olhava a barca, sim, mas para encarar de
frente a degradação que recusara.
Noé
e o resto dos animais assistiam mudos àquele duelo entre Vicente e Deus. E no
espírito claro ou brumoso de cada um, este dilema, apenas: ou se salvava o
pedestal que sustinha Vicente, e o Senhor preservava a grandeza do instante
genesíaco - a total autonomia da criatura em relação ao criador -, ou, submerso
o ponto de apoio, morria Vicente, e o seu aniquilamento invalidava essa hora
suprema. A significação da vida ligara-se indissoluvelmente ao acto de
insubordinação. Porque ninguém mais dentro da Arca se sentia vivo. Sangue,
respiração, seiva de seiva, era aquele corvo negro, molhado da cabeça aos pés,
que, calma e obstinadamente, pousado na derradeira possibilidade de
sobrevivência natural, desafiava a omnipotência.
Três
vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três
vezes recuou. A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração
resoluto de Vicente, estremeceu de terror. A morte temia a morte.
Mas
em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra aquela
vontade inabalável de ser livre.
Que,
para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu.
Miguel
Torga, Os
Bichos
Mário Dionísio, "Assobiando à vontade" in O dia cinzento e outros contos
- Mário Dionísio, "Assobiando à vontade" in O dia cinzento e outros contos - 8º ano
Àquela hora o trânsito
complicava-se. As lojas, os escritórios, algumas oficinas, atiravam para a rua
centenas de pessoas. E as ruas, as praças, as paragens dos eléctricos, que
tinham sido planeadas quando não havia nas lojas, nos escritórios e nas
oficinas tanta gente, ficavam repletas dum momento para o outro. Nos largos
passeios das grandes praças havia encontrões. As pessoas de aprumo tinham de
fechar os olhos àquele desacato e não viam remédio senão receber e dar
encontrões também e praguejar algumas vezes. Os eléctricos apinhavam-se na
linha à frente uns dos outros. Seguiam morosamente, carregados até aos estribos
e por fora dos estribos, atrás, no salva-vidas, com as tais centenas de pessoas
que saltavam àquela hora apressadamente das lojas, dos escritórios, das
oficinas. Além disso, nos dias bonitos como aquele, as ruas da Baixa enchiam-se
de elegantes que iam dar a sua volta, às cinco horas, pelas lojas de novidades
e pelas casas de chá, para matar o tempo de qualquer maneira, ver caras
conhecidas, cumprimentar e ser cumprimentadas, e só voltavam a casa à hora de
jantar.
A multidão propunha uma
confraternização à força. Era preciso pedir desculpa ao marçano que se acabava
de pisar, implorar às pessoas penduradas no eléctrico que se apertassem um
pouco mais para se poder arrumar um pé, nada mais que um pé, num cantinho do
estribo, muitas vezes sorrir para gente que nunca se tinha visto antes e apetecia
insultar. Os elegantes e as elegantes achavam naturalmente tudo isto muito
aborrecido. Sobretudo a necessidade absoluta de seguir naquelas plataformas
repletas em que não viajavam só cavalheiros, mas muitos homenzinhos pouco
correctos e onde esses mesmos homenzinhos e mulheres vulgares deitavam um
cheiro insuportável. Que fazer, no entanto, senão atirar-se uma pessoa também
para aquele mar de gente que empurrava, furava, pisava e barafustava até chegar
ao carro? Que fazer senão empurrar, furar, pisar e barafustar também?
O carro seguia morosamente e
repleto como os outros. Felizmente, ainda havia alguns homens correctos na
cidade e algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar. Só graças a isso as
senhoras que tinham arriscado os seus sapatos e os seus chapéus naquela refrega
e alguns cavalheiros respeitáveis conseguiam sentar-se.
Nos primeiros momentos de
viagem, as pessoas voltavam-se nos bancos, preocupadas, tentando ver se o
marido, uma amiga, um filho, não teriam ficado em terra. Os que seguiam de pé
ousavam dar um passo no interior do carro, a ver se teria ficado algum lugar
vago por acaso. Havia logo protestos na plataforma. Depois as pessoas
acomodavam-se o melhor que podiam, punham os braços no ar para livrar os embrulhos
do aperto, fechavam bem os casacos e as malas onde levavam o dinheiro, o
condutor puxava energicamente o cordão da campainha muitas vezes, lotação
completa, e o carro arrastava-se em silêncio.
Os senhores respeitáveis, com
compreensível e muda zanga dos companheiros do lado, começavam a desdobrar os
jornais da tarde e a ler as notícias por alto. As senhoras, visivelmente mal
dispostas, compunham os chapéus e as golas dos casacos. Tiravam os espelhinhos
da mala e passavam tudo em revista: o chapéu, os cabelos, os olhos, os lábios.
Era incrível. Uma tinha ficado com o chapéu completamente de banda, outra
perdera uma luva na confusão. Depois guardavam os espelhos, acomodavam-se
melhor, percorriam com os dedos os anéis duma mão e da outra, para ver se
estavam no lugar, se estavam todos. Olhavam umas para as outras, muito sérias,
como quem não repara em nada. Recuperavam pouco a pouco a dignidade que aquele
despropósito da subida para o carro evaporara.
Nas curvas, as rodas chiavam nas
calhas, debaixo do grande peso. Silêncio enfim -embora de vez em quando cortado
pela campainha, quando alguém tinha a triste ideia de querer descer, pelo
desdobrar dos jornais, pela voz dos populares, encaixados na plataforma da
frente.
Tudo voltara à normalidade. A marcha
do carro, a cobrança dos bilhetes, a separação entre as pessoas, que
rigorosamente não conseguiam separar-se umas das outras um centímetro que
fosse. E, assim, morosamente, por curvas e rectas, por ruas e praças, aquele
carro cumpria o seu destino de acarretar gente e ser insultado, numa das várias
linhas que ligavam o centro da cidade aos bairros relativamente novos, onde a
separação entre a chamada classe média e as camadas mais baixas da população
não fora ainda convenientemente estabelecida.
Em dada altura, porém, na
plataforma de trás levantou-se burburinho. Protestos. Indignação. Cabeças
voltaram-se no interior do carro. E viu-se um homenzinho a empurrar toda a
gente e a dizer que havia lugares à frente, que o deixassem passar. Em vão lhe
asseguravam que não havia lugar nenhum, que não podia passar, que não fosse
bruto. O homem empurrava e teimava que havia lugares à frente. Tanto empurrou
que furou. Tanto furou que conseguiu entrar no interior do eléctrico, avançou e
foi sentar-se num lugar de lado que estava efectivamente vago lá à frente, ao
lado duma senhora por sinal opulenta.
Foi um espanto geral e
silencioso. Ninguém tinha reparado no lugar. E menos que ninguém, como é fácil
de compreender, a própria senhora opulenta. Todos os atrevidos têm sorte.
O homem, que usava um chapéu
coçado e um sobretudo castanho bastante lustroso nas bandas, não se sentou
propriamente. Enterrou-se no lugar, com as mãos enfiadas pelas algibeiras
dentro. Que sujeito! Devia ser mais novo do que parecia por causa do cabelo
grisalho e da barba por fazer. A senhora opulenta franziu a testa e remexeu-se
no lugar, se assim se pode dizer, como quem procura ocupar menos espaço. Na
verdade, apenas se instalou melhor. A sua intenção era fazer o homenzinho
reparar na inconveniência da atitude que tomara. Mas ele não viu nada disso ou
fingiu que não viu. Olhou vagamente as pessoas que tinha na frente, estendeu os
lábios e começou a assobiar. A assobiar muito à vontade no interior do carro!
Primeiro, foi um assobio
baixinho, pouco seguro, imperceptível quase. Depois, a pouco e pouco, o
sujeitinho entusiasmou-se. E o assobio aumentou de intensidade. Ouvia-se já em
todo o eléctrico. Os passageiros, que tinham recuperado com tanto custo a sua
dignidade, fingiam que não davam pelo homem nem pelo assobio. E sossegaram
quando o condutor se dirigiu ao recém-vindo. Ia aconselhá-lo a calar-se, com
certeza. Mas qual! Com o maço dos bilhetes na mão e de alicate espetado,
limitou-se a dizer: «O senhor?» O passageiro tirou a mão da algibeira e, sem
deixar de assobiar, estendeu-a com a palma voltada para cima. Esperou que lhe
levassem a moeda, recebeu o bilhete e tornou a enfiar a mão pela algibeira
dentro. Toda a gente seguia a cena, interessada. Mas, quando o homem olhou as
pessoas, ao acaso, voltaram todas os olhos como se ele afinal não existisse.
O assobio, umas vezes, era
baixo, mal se ouvia, outras vezes, alto, muito alto, com trinados ridículos e
irritantes. Ninguém sabia o que ele assobiava. E o homem também não. Qualquer
coisa que lhe apetecia que fosse assim mesmo. Às vezes repetia os sons como um
estribilho. Outras vezes, porém, a maior parte das vezes, passava a novas combinações,
ora brandas, ora violentas, sem querer saber para nada das que ficavam para
trás. As pessoas começavam a olhar umas para as outras à socapa. Já se tinha
visto coisa assim? Um ou outro cavalheiro levantava os olhos do jornal, franzia
a testa, fitava com dureza o homem do chapéu coçado e sobretudo castanho, na
esperança de que ele, envergonhado, parasse com aquilo. A senhora opulenta, no
auge do espanto, nem se atrevia a olhar para lado nenhum, vexadíssima porque,
sem ter culpa nenhuma, se encontrava em plena zona do escândalo. A que uma
pessoa está sujeita!
E, no silêncio do carro, o
assobio aumentava de volume. Talvez, no fundo, aquele gorjeio ridículo não
fosse desagradável de todo. Simplesmente, um eléctrico não é o local mais próprio
para exibições daquelas. Porque não interferiria o condutor? O condutor era a
autoridade do carro. Porque não interferiria? Estava-se a ver. Era tão bom como
ele. A verdade, porém, é que não se conhecia nenhum regulamento que impedisse
os passageiros de assobiar. Colados aos vidros do eléctrico, havia papéis que
proibiam fumar, cuspir no carro. Era proibido abrir as janelas durante os meses
de Inverno. Mas nem uma palavra a respeito de assobios.
De repente, uma criança que ia
sentada junto duma janela e já se sentia enfastiada de olhar para a rua
interessou-se pelo homem. Achava-lhe tanta graça, com o seu chapéu coçado, o
seu sobretudo castanho, o seu assobio... Era uma criança muito pálida, de
cabelos louros e encaracolados, vestida de azul. Interessou-se tanto pelo homem
que começou a bater palmas. Mas uma senhora nova e bonita, que ia ao lado dela,
segurou-lhe as mãos com gentileza e afastou-lhas. Devia ir calada e quietinha.
Era muito feio fazer barulho no eléctrico. Uma menina bonita não fazia barulho.
«Que disse eu à minha filha?» No entanto, a senhora nova e bonita não
antipatizava com o homem. Olhava os embrulhos de papel vistoso que trazia nos
joelhos e pensava: se não pudesse mais e começasse também a assobiar? No fundo,
admirava a sem-cerimónia do homem do chapéu coçado. Não seria adorável ela
própria, uma senhora casada e mãe de uma garota de cinco anos, começar a
assobiar num eléctrico se lhe apetecesse? Quando era da idade da filha, a
senhora bonita ia muitas vezes ao campo vestida com coisas velhas para poder
atirar-se para a relva à vontade. Tinha uma voz muito suave e muito fresca,
gostava de fazer precisamente aquilo que uma menina bonita não deve fazer Os
amigos do pai pegavam-lhe ao colo, atiravam-na ao ar E ela ria, ria, ria até
ficar sufocada. A mãe dizia «Pronto, pronto, vamos a ter juízo, não se ri assim
dessa maneira» E, quanto mais lho diziam, mais lhe apetecia rir, rir, rir.
De vez em quando, um passageiro
saía. A plataforma do carro ia-se esvaziando. E, pouco a pouco, os que ficavam
foram-se habituando àquele estúpido assobio Os cavalheiros tinham esquecido os
jornais Algumas senhoras sorriam Já se vira um disparate assim? Principalmente
a senhora opulenta não podia mais. Apertava os lábios. Sentada num banco de
lado, encontrava os olhos de toda a gente. Era irresistível. E a senhora bonita
pensava em ar livre e nos tempos da infância. Na escola aprendera a assobiar e
a lançar o pião. Havia vozes que tinham ficado dentro dela. «Uma menina a
assobiar, Nini?»
Em dada altura, o homem, sem
deixar de assobiar, levantou-se e puxou o cordão da campainha. Era um
homenzinho insignificante, ainda novo e já de cabelos grisalhos, chapéu coçado,
sobretudo castanho muito lustroso nas bandas. Mas havia nele uma indiferença soberana
pelo eléctrico inteiro Toda a gente o olhava Com desprezo? Com ironia? Com
inveja? Abriu a porta, fechou-a e saltou com o carro ainda em andamento.
As pessoas voltaram-se então
umas para as outras, não resistiram mais e riram mesmo. Que homenzinho patusco!
Desculpavam-se, explicavam-se sem palavras Entendiam-se Um minuto de
simplicidade e simpatia iluminou-as A criança que batera palmas limpou com a
mão o vidro embaciado da janela à procura do estranho passageiro Viu-o
atravessar a rua, seguir pelo passeio agarrado às casas, desaparecer.
Só então a senhora nova e
bonita, que era a mãe da criança, abriu os olhos. Ninguém hoje lhe chamava
Nini. Nini era a filha Ela agora é que dizia à filha «Uma menina a assobiar,
Nini! Uma menina bonita não faz barulho.»
Ficara nos lábios e nos olhos de
todos um sorriso de bondosa ingenuidade o Depois esse sorriso foi-se apagando
Morreu As pessoas tomaram consciência da sua momentânea quebra de compostura
Lembraram-se dos seus embrulhos, dos seus anéis, dos seus jornais Que patetice!
Não havia outra palavra para aquilo Que patetice! Os cavalheiros recomeçaram a
ler os títulos das notícias. As senhoras deram um toque nas golas dos casacos A
criança tornou a olhar para a rua. Tudo voltou, pesadamente, a encher-se de
silêncio e dignidade.
José Gomes Ferreira, "Parece impossível mas sou uma nuvem" in O Mundo dos outros
José Gomes Ferreira, "Parece impossível mas sou uma nuvem" in O Mundo dos outros - 8º ano
Um grupo de sonhadores, de nariz no ar, contempla aquela nuvem – pobre
escrava branca de todos os ventos.
- Parece um cavalo de batalha – diz um.
- Qual! – protesta outro. – A mim dá-me a impressão duma cabeça de romano.
Só lhe falta falar latim.
Uma rapariga franze os lábios no desacordo lento de ruminar em voz alta:
- Cabeça de romano, não… Deixa-me examinar bem… Ah! Já sei! É uma ave…
Isso mesmo: um cisne. Lá está o pescoço. E as asas. Que elegância! Não vêem?
- Qual cisne, qual carapuça – acode outro. – A mim parece-me um anjo
vaporoso, leve, ténue, de asas suspensas…
Cada qual aspira reduzir a nuvem ao tamanho dos seus olhos. Este descobre
nela um elefante; aquele, um camelo no Deserto das Areias Azuis; estoutro, um
templo chinês…
Só eu num dia seco de imaginação continuo a ver apenas uma nuvem. Mas
para não fazer má figura, quando chega a minha vez de opinar, opto resolutamente
pelo hipopótamo:
- É tal qual um hipopótamo.
Enquanto com voz nítida e tenaz sustento o meu teimoso ponto de vista do
hipopótamo – por dentro, em contraponto, começa o outro mundo a fermentar.
Pela primeira vez, ato certas observações desligadas na aparência, dou-lhes
lógica e acabo por descobrir esta verdade, vestida duma imagem literária, mas nem
por isso menos verdadeira: Eu também sou uma nuvem. Uma nuvem de natureza
especial, evidentemente, de carne osso, com duas pernas, dois olhos, um baço, um
fígado e esta dorzinha de cabeça tão fina… Mas nem por isso menos nuvem do que
qualquer outra – sujeito à tirania de ventos semelhantes e ao mesmo destino vário de
não possuir um carácter de aceitação unânime.
Ninguém me vê do mesmo modo. Como a nuvem do céu – para alguns sou
águia; para muitos, burro; para este, um camelo; e para quase todos um animal
indefinido.
Cada qual agarra em mim a realidade que mais lhe convém. Há patetas que me
julgam engraçadíssimo e outros que choram tédio mal envesgam a minha cara longa
de gato-pingado. Horrorizo meia dúzia de pessoas com a minha má-criação, ao
mesmo tempo que fascino outra dúzia com a amenidade de açúcar do meu
temperamento. E depois de empolgar três ou quatro tolos com discursos inteligentes,
não me importo de exibir um solo de estupidez diante dum auditório de cretinos
espertos.
A única divergência entre mim e a nuvem é que o pobre farrapo de vapor de
água desliza pelo céu desprendido e alheio à opinião dos olhos dos homens… Mas eu
não. Eu colaboro.
Consciente ou inconscientemente, adapto-me às opiniões provisórias dos
outros. Entro nas mil comédias do ramerrão diário, sem me enganar nos papéis ou
confundir as personalidades.
Graças ao meu profundo talento de Proteu, nunca os palermas que me supõem
tímido assistiram a um rasgo de revolta da minha parte. Nem os que me consideram
abaixo da craveira normal puderam arrepender-se do seu juízo a respeito da minha
imbecilidade prevista.
Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus
Ficha de Avaliação Sumativa nº3
Língua Portuguesa 8ºano
Raul Batista – Sebastião Ribeiro
Sou sempre o que eles querem: bom, mau, epiléptico, filósofo, íntegro,
puritano, devasso, pianista, sonâmbulo, tudo…
Só nunca fui uma coisa: eu próprio.
Mas esse é um dos muitos segredos que hei-de levar para a sepultura.
Entretanto por fora continuo a teimar:
- É um hipopótamo, já disse!
O mundo dos Outros, José Gomes Ferreira
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
LEITOR DO MÊS - novembro
A minha primeira obra de arte
EXPOSIÇÃO DE EDUCAÇÃO VISUAL
2º CICLO
Alunos do professor José Seixas
Projetos de desenho a Lápis de Grafite.
O lápis de grafite é um material
riscador usado para a escrita e para o desenho. O lápis é constituído por uma
mina riscadora (grafite) e apresentam diferentes graus de dureza. O grau de
dureza dos lápis varia em função dos números e das letras que identificam os
diversos lápis e classificam as minas em duras, médias ou macias. Usualmente,
na sua classificação utilizam-se as letras H (duras), HB (médias) e B (macias).
O desenho a lápis de grafite é
rápido, direto e sensível. É usado para desenhos e esboços de observação, com
linhas expressivas e boa indicação de volumes. Tendo por base a textura do
papel, o lápis de grafite permite a construção de negros vincados e de
diferentes tonalidades, variando entre claros e escuros, de acordo com a
pressão exercida sobre a ponta do lápis.
Este é o primeiro trabalho de
desenho dos alunos do 5ºano, utilizando o lápis de grafite, numa abordagem ao
desenho das formas e da representação das zonas de sombra/luz, pela utilização
da técnica de gradação dos sombreados.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
UM OLHAR DE LER E SABER - Chitchen Itza - México.
A literacia da imagem trabalhada pelo professor Pedro Honrado.
Imagem: Chitchen Itza - México.
Questões colocadas
pelos alunos
Como se chama?
Porque foi
construída?
O que tem dentro?
Para que serve?
Quantos anos tem?
Por quem foi feito?
Qual é a altura?
Quantos degraus tem?
De que é feito?
O que tem lá dentro?
Como foi construída?
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ARTICULAÇÃO,
atividades 17-18,
um olhar de ler e saber
domingo, 5 de novembro de 2017
Leitura autónoma
Etiquetas:
atividades 17-18,
leitura autónoma
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
LER NA BE - SELOS
terça-feira, 31 de outubro de 2017
MÊS INTERNACIONAL DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES 2017
Etiquetas:
a ler+ 17-18,
atividades 17-18,
MIBE17
PLANIFICAÇÃO MIBE17
ESP@ÇO INFO-BE programa MIBE17
Encontro com ANA CORREIA
O mês de outubro
é o mês internacional das bibliotecas escolares.
Parafraseando
José Jorge Letria, ler faz bem e os livros, além de abrir os horizontes, de
permitir viajar no tempo e no espaço, têm a particularidade de partilharem
connosco, pela vida fora, a magia da aventura e do saber.
Os alunos do 7º
C, no âmbito da disciplina de Português e do plano anual de atividades da BE e
do projeto A Ler +, participaram na atividade “ Ler na BE”, fazendo uma leitura
dramatizada do conto literário “ Ladino”, retirado da obra Os Bichos, de
Miguel Torga, escritor transmontano, autor da obra “ O Reino Maravilhoso de
Trás –os Montes, região que ele tão bem soube descrever como ninguém. Esta
leitura permitiu aos alunos tomar contacto com uma realidade rural, cultural e
linguística que, pouco a pouco, vai desaparecendo.
De salientar
nesta atividade a participação de uma encarregada de educação, Ana Correia, que
aceitou amavelmente o convite para participar na leitura dramatizada do texto.
O objetivo desta
iniciativa visa, assim, promover hábitos e o gosto pela leitura.
Salete Valente
No dia 29 de Outubro os alunos da professora Salete Valente encontraram-se com Ana Correia (encarregada de educação) na biblioteca MJA para ler o conto "Ladino" de Miguel Torga.Uma experiência a repetir.
Aqui está o texto:
Ladino de Miguel Torga
Grande bicho, aquele Ladino, o pardal! Tão manhoso, em toda a freguesia, só o padre
Gonçalo. Do seu tempo, já todos tinham andado. O piolho, o frio e o costelo não
poupavam ninguém. Salvo-seja ele, Ladino.
Mas como havia de lhe dar o lampo, se aquilo era uma cautela, um rigor!... E logo de
pequenino. Matulão, homem feito, e quem é que o fazia largar o ninho?! Uma semana
inteira em luta com a família. Erguia o gargalo, olhava, olhava, e - é o atiras dali
abaixo!... A mãe, coitada, bem o entusiasmava. A ver se o convencia, punha-se a fazer
folestrias à volta. E falava na coragem dos irmãos, uns heróis! Bom proveito! Ele é que
não queria saber de cantigas. Ninguém lhe podia garantir que as asas o aguentassem. É
que, francamente, não se tratava de brincadeira nenhuma!
Uma altura! Até a vista se lhe escurecia... O pai, danado, só argumentava às bicadas, a
picá-lo como se pica um boi. Pois sim! Ganhava muito com isso. Não saía, nem por um
decreto. E, de olho pisco, ali ficava no quente o dia inteiro, a dormitar. Pobre de quem
tinha de lho meter no bico...
Contudo, um dia lá se resolveu. Uma pessoa não se aguenta a papas toda a vida. Mas
não queiram saber... Quase que foi preciso um pára-quedas.
Mais tarde, quando recordava a cena, ainda se ria. E deliciava-se a descrever as
emoções que sentira. Arrepios, palpitações, tonturas, o rabinho tefe-tefe. E a ver as
coisas baças, desfocadas. Agoniado de todo! Valera-lhe a santa da mãe, que Deus haja.
- Abre as asas, rapaz, não tenhas medo! Força! De uma vez!
Tinha de ser. Fechou os olhos, alargou os braços, e atirou o corpo, num repelão... Com
mil diabos, parecia que o coração lhe saía pelos pés! Ar, então, viste-o.
Deu às barbatanas, aflito.
- Mãe!
Mas afinal não caía, nem o ar lhe faltava, nem coisíssima nenhuma. Ia descendo como
uma pena, graças aos amortecedores. Mais que fosse! No peito, uma frescura fina,
gostosa... Não há dúvida: voar era realmente agradável! E que bonito o mundo, em
baixo! Tudo a sorrir, claro e acolhedor...
2
A mãe, sempre vigilante e mestra no ofício, aconselhou-lhe então um bonito antes de
aterrar. Dar quatro remadas fundas, em cheio, e, depois, aproveitar o balanço com o
corpo em folha morta, ao sabor da aragem...
Assim fez. Os lambões dos irmãos nem repararam, brutos como animais! A mãe é que
disse sim senhor, com um sorriso dos dela...
E pousou. Muito ao de leve, delicadamente, pousou no meio daquela matulagem toda,
que se desunhava ao redor duma meda de centeio.
Terra! Pisava-a pela primeira vez! Qualquer coisa de mais áspero do que o veludo do
ninho, mas também quente e segura. Deu alguns passos ao acaso, a tirar das cócegas
nos dedos um prazer de que ainda tinha saudades. Depois, comeu. Comeu com fome e
com gula os grãos duros que o sol esbagoava das espigas cheias. Numa bicada
imprecisa, precipitada, foi a ver, engolira uma pedra. Não lhe fez mal nenhum. Pelo
contrário. Ricos tempos! Desde o entendimento ao estômago, estava tudo inocente,
puro. Fosse agora, e era indigestão pela certa. Arrombadinho de todo! Por isso fazia
aquela dieta rigorosa...
Falava assim, e ria-se, o maroto. Nem pejo tinha da mocidade, que o ouvia
deslumbrada.
- A vergonha é a mãe de todos os vícios - costumava dizer.
E tanto fazia a Ti Maria do Carmo pôr espantalho no painço, como não. Ladino, desde
que não lhe acenassem com convite para arrozada numa panela, aos saltinhos ia
enchendo a barriga. Depois, punha-se no fio do correio a ver jogar o fito, como quem
fuma um cigarro. Desmancha-prazeres, o filho da professora aproximava-se a
assobiar... Ah, mas isso é que não. Brincadeiras com fisgas, santa paciência. Ala! Dava
corda ao motor, e ó pernas! Numa salve-rainha, estava no Ribeiro de Anta. Aí, ao
menos, ninguém o afligia. Podia fartar-se em paz de sol e grainha.
- Que mais quer um homem?!
- O compadre lá sabe...
- Bem... Tudo é preciso... São necessidades da natureza... Desde que não se abuse...
E continuava, muito santanário, a catar o piolho. Depois, metia-se no banho.
- Rica areia tem aqui o cantoneiro, sim senhor!
D. Micas concordava. E só as Trindades o traziam ao beiral da Casa Grande.
Adormecia, então. E a sono solto, como um justo que era, passava a noite. Acordava
de madrugada, quando a manha rompia ao sinal de Tenório, o galo. Isto, no tempo
quente. Porque no frio, caramba!, ou usava duma táctica lá sua, ou morria gelado.
Aquelas noites da Campeã, no Janeiro, só pedras é que podiam aguentá-las. E chegavase
à chaminé. Com o bafo do fogão sempre a coisa fiava de outra maneira.
Ah, lá defender-se, sabia! A experiência para alguma coisa lhe havia de servir. Se via o
caso mal parado, até durante o dia punha o corpo no seguro. Bastava o vento soprar
da serra. Largava a comedoria, e - forro da cozinha! Não havia outro remédio. Tudo
menos uma pneumonia!
A classe tinha realmente um grande inimigo - o inverno. Mal o Dezembro começava, só
se ouviam lamúrias.
- Isto é que vai um ano, Ti Ladino!
A Cacilda, com filhos serôdios, e à rasca para os criar.
- Uma calamidade, realmente. Mas vocês não tomam juízo! É cada ninhada, que
parecem ratas!
- O destino quer assim...
- Lérias, mulher! O destino fazemo-lo nós...
Solteirão impenitente, tinha, no capítulo de saias, uma crónica de pôr os cabelos em
pé. Tudo lhe servia, novas, velhas, casadas ou solteiras. Mas, quando aparecia geração,
os outros é que eram sempre os pais da criança.
- Se todos fizessem como eu...
- Ora, como vossemecê!... Cala-te, boca. Mudemos de conversa, que é melhor... Segue-se
que não sei como lhes hei-de matar a fome... - gemia a desgraçada.
- Calculo a aflição que deve ser...
£ o farsante quase que chorava também. Quisesse ele, e a infeliz resolvia num abrir e
fechar de olhos a crise que a apavorava. Pois sim! Olha lá que o safado ensinasse como
se ia ao galinheiro comer os restos!... Enchia primeiro o papo e, depois, a palitar os
dentes, fazia coro com a pobreza.
- É o diabo... Este mundo está mal organizado...
Um monumento! Como ele, só mesmo o padre Gonçalo. Quanto maior era a miséria,
mais anediado andava.
- Aquilo é que tem um peito! Numas brasas, com uma pitada de sal...
Mas já Ladino ia na ponta da unha. Não queria quebrar os dentes de ninguém. Carne
encoirada, durásia... E acrescentava:
- Isto, se uma pessoa se descuida, quando vai a dar conta está feita em torresmos.
Que tempos!
O mais engraçado é que já falava assim há muitos anos, com um sebo sobre as
costelas, que nem cabrito desmamado.
De tal maneira, que o Papo Magro, farto daquela velhice e daquelas manhas, a certa
altura não pôde mais, e até foi malcriado.
- Quando é esse funeral, ti Ladino?
Mas o velho raposão, em vez de se dar por achado, respondeu muito a sério, como se
fizesse um exame de consciência:
- Olha, rapaz, se queres que te fale com toda a franqueza, só quando acabar o milho
em Trás-os-Montes.
Miguel Torga, in Os Bichos
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segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Travessuras e diabruras na MJA
Travessuras e diabruras
A biblioteca transformou-se num espaço enfeitiçado.
Bruxas, bolas de cristal, morcegos, abóboras e esqueletos. BUHHHHHHUUUUU
Dois dias de animação dedicados ao Halloween, organizados pelos professores de Inglês e clube das artes decorativas
A professora bibliotecária também andou a fazer malandrices transformando a sala de professores num verdadeiro inferninho.
A BE disponibilizou a visualização do filme A história de uma bruxa, mas ninguém procurou. Que pena!
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