terça-feira, 25 de outubro de 2022

A biblioteca MJA


Faz 24 anos que a minha vida profissional mudou. Pediram-me para fazer um projeto de arquitetura de uma biblioteca escolar e centro de recursos educativos, uma BE/CRE, no 1º andar de um pavilhão escolar normalizado, dividido em salas. Disseram-me, há pouco dinheiro e podes deitar abaixo as paredes q quiseres. Acionei a memória, já tinha feito um projeto para uma candidatura da Torre do Tombo em Lisboa, em que tudo se configura por metros e quilómetros de estantes. Investiguei bibliotecas escolares novas existentes em Portugal, não havia nada, consultei as obras do arquiteto Alvar Aalto na Finlândia e essencialmente estudei o conceito de biblioteca escolar, fui parar numas orientações da Unesco.

Passados uns meses (1999), o projeto foi aprovado pelo Ministério de Educação e esta biblioteca foi integrada na Rede de Bibliotecas Escolares RBE, as paredes foram abaixo, e nasceu uma grande biblioteca, um auditório, uma sala polivalente, câmara escura, sala multimédia,  arrecadação e wc.  Instalou-se um painel de azulejos do pintor Emerenciano "Pensar é entrar num labirinto". Foi inaugurada, ainda com pouco mobiliário e dei por terminado o meu trabalho.

Nesse dia a direção da escola convocou-me e propôs-me novo desafio:

 -Já que projetaste  a melhor BE/CRE da região agora é preciso que ela funcione e a nossa proposta é que a ponhas a funcionar. Não aceitamos um não, diz-nos o que precisas.

-Preciso de respirar! Não entendo nada de bibliotecas, talvez um professor de línguas seja mais adequado. Temos aqui bons professores

- Vais ser tu!

- Não quero estar numa biblioteca a aconselhar leituras, nem sei catalogar, é melhor não. Sou daquelas profs que lê banda desenhada e livros de arte. Não consigo cumprir rotinas...eu quero é dar aulas e mexer esteticamente na mente dos meus alunos,  a biblioteca para mim é algo diferente... não tenho paciência para ficar aqui a cumprir horário. - argumentei como pude.

- Por isso mesmo é que confiamos em ti.

Há 23 anos que vivo com as bibliotecas entre a razão e o coração. Interrompi 2 anos por motivos pessoais. Todos os anos em julho, ponho o meu cargo à disposição e todos os anos o renovam.

Aprendi muito, especialmente, que o mérito das respostas dadas com sucesso aos desafios, são das equipas, dos alunos, das direções, dos pais, dos professores  e o entusiasmo de todos é que faz a diferença

Fui adotando outras bibliotecas. Agora são 5. Tenho um coração elástico.

Estou grata a todos e prendo todos os dias. 

Anabela Quelhas

















 

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