Inaugurada a 17 de Julho de 1943, a Gare Marítima de Alcântara de Lisboa, foi projectada pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) e constitui, com a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, de 1948, também da sua autoria, um dos mais importantes projetos modernistas da arquitetura portuguesa dos anos 40.
Os frescos da gare
(8 painéis - dois trípticos e duas composições isoladas) são da autoria de Almada Negreiros (artista português
multifacetado).
PAINEL 1 – Apresenta uma nau, com os
marinheiros à mesa e os pratos vazios. Como sabem, eles deitaram sortes para
ver quem matariam, a fim de terem de comer. E logo a sorte foi cair no capitão
que pede a um marujo, que suba ao mastro, para ver se via terra, numa tentativa
de escapar da morte.
PAINEL 2 - Entretanto o gajeiro (marinheiro
encarregado de subir aos mastros) terá sido possuído pelo demónio, e pede
alvíssaras (recompensas) ao capitão. Este oferece-lhe sucessivamente, a mais
formosa das suas três filhas, muito dinheiro, o seu cavalo branco e a Nau Catrineta,
mas tudo ele recusa, dizendo que quer a alma do capitão. O capitão renega-o
dizendo que a sua alma é só de Deus, e que antes dá o corpo ao mar. Nesta
pintura se pode ver a nau, as três meninas e o cavalo.
PAINEL 3 - Vencido o demónio pela fé do
capitão, eis que chegam a terra. Esta pintura mostra a chegada a terra. Reparem
que apesar desta lenda ser relativa aos Descobrimentos, o pintor usou para
"vestir" as pessoas, roupas da época - anos 40.
NAU
CATRINETA
Lá
vem a Nau Catrineta,
que
tem muito que contar!
Ouvide,
agora, senhores,
Uma
história de pasmar."
Passava
mais de ano e dia,
que
iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Já
mataram o seu galo,
que
tinham para cantar.
Já
mataram o seu cão,
que
tinham para ladrar."
"Já
não tinham que comer,
nem
tão pouco que manjar.
Deitaram
sola de molho,
para
o outro dia jantar.
Mas
a sola era tão rija,
que
a não puderam tragar."
"Deitaram sortes ao fundo,
qual se havia de matar.
Logo a sorte foi cair
no capitão general"
-
"Sobe, sobe, marujinho,
àquele
mastro real,
vê
se vês terras de Espanha,
ou
praias de Portugal."
-
"Não vejo terras de Espanha,
nem
praias de Portugal.
Vejo
sete espadas nuas,
que
estão para te matar."
-
"Acima, acima, gajeiro,
acima ao tope real!
Olha
se vês minhas terras,
ou
reinos de Portugal."
-
"Alvíssaras, senhor alvissaras,
meu
capitão general!
Que
eu já vejo tuas terras,
e
reinos de Portugal.
Se
não nos faltar o vento,
a
terra iremos jantar.
Lá
vejo muitas ribeiras,
lavadeiras
a lavar;
vejo
muito forno aceso,
padeiras
a padejar,
e
vejo muitos açougues,
carniceiros
a matar.
Também vejo três meninas,
debaixo de um laranjal.
Uma
sentada a coser,
outra
na roca a fiar,
A
mais formosa de todas,
está
no meio a chorar."
-
"Todas três são minhas filhas,
Oh!
quem mas dera abraçar!
A
mais formosa de todas
Contigo
a hei-de casar"
-
"A vossa filha não quero,
Que
vos custou a criar.
Que
eu tenho mulher em França,
filhinhos
de sustentar.
Quero a Nau Catrineta,
para nela navegar."
-
"A Nau Catrineta, amigo,
eu
não te posso dar;
assim
que chegar a terra,
logo
ela vai a queimar.
-
"Dou-te o meu cavalo branco,
Que
nunca houve outro igual."
-
"Guardai o vosso cavalo,
Que
vos custou a ensinar."
-
"Dar-te-ei tanto dinheiro
Que
o não possas contar"
-
"Não quero o vosso dinheiro
Pois
vos custou a ganhar.
Quero
a Nau Catrineta,
para
nela navegar.
Que assim como escapou desta,
doutra ainda há-de escapar"
Lá
vai a Nau Catrineta,
leva
muito que contar.
Estava a noite a cair,
e ela em terra a varar.
O poema narra as desventuras dos tripulantes durante a longa
travessia marítima - os mantimentos que esgotaram, a presença de tentação
diabólica e afinal, a intervenção divina, que leva a nau a seu destino.
O poema foi recolhido por Almeida Garrett e incluído
no Romanceiro.(Esta informação está exposta no átrio da biblioteca MJA e foi elaborada pela professora de Educação Visual, Anabela Quelhas - este será o ponto de partida para a exploração plástica do tema Erasmus+, "O mar e a História".)
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