sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 

 

                Antigamente havia muitas tempestades, chuvas fortes, relâmpagos e ventos que faziam as pessoas quase voar. E assim se formaram os grandes rios.

            Numa dessas noites de chuva, perto de uma pequena aldeia, num pinhal, morava um pequeno duende, aprendiz de sapateiro. Esse pequeno duende era pobre e já não tinha quase nada para comer e o couro já era pouco, só iria dar para fazer mais um par de sapatos. Ora, nessa mesma noite, o aprendiz preparou todo o couro que tinha e colocou-o em cima da sua pequena mesa da sala, para que, na manhã seguinte, pusesse as mãos à obra e o começasse a trabalhar.

Na tarde do dia seguinte, passou pela aldeia um homem baixo, de óculos pretos, camisa aos quadrados e uma bangala de madeira, à procura de um sapateiro, pois, no dia seguinte, ia casar e ainda não tinha sapatos para subir ao altar. Deu-se o caso desse homem ter falado com um humilde aldeão que lhe falou na casa do aprendiz sapateiro que vivia lá para um pinhal, distante um pouco da aldeia. Agradecendo a ajuda, o homem seguiu caminho fora, por entre os pinheiros e moitas.

 Deu-se o caso que não tardou muito a dar com a casinha do duende, no meio de uma clareira, por onde entravam raios de sol, que tornavam aquele lugar muito bonito e soalheiro. Aproximou-se mais um pouco, desejoso por saber quem morava naquela casinha tão pequenina, mas tão acolhedora, por sinal. Chegado à porta, bateu com cuidado, não fosse acordar ou assustar alguém menos avisado. Eis que surge à soleira uma figura encantadora, pequenina, alguém parecido com um anão, que lhe perguntou, muito curioso, mas afável:

_ Em que o posso servir, senhor?

_ Desejava um par de sapatos, pois à manhã vou casar-me e não tenho que calçar!

O duende, nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer, pois já não tinha dinheiro para comprar mais couro, por isso, apressou-se a responder:

 _ Veio em boa altura, meu senhor, pois tenho uns sapatinhos acabados de fazer. E acrescentou. _ E se não tivesse, eu mesmo lhe emprestaria uns!

O homem pediu ao pequeno duende para dar uma vista de olhos e experimentar. Serviram-lhe que nem uma luva! E logo transmitiu ao duende a sua satisfação:

 _Parabéns pelo seu excelente trabalho, amigo. Nem imagina o bem que me fez, pois tinha corrido tudo e nenhuns me ficaram tão bem como estes.

O duende entregou-lhe os sapatos em mão e o homem meteu a mão no bolso, tirando todo o dinheiro que lá tinha, e não era assim tão pouco!

O aprendiz sentiu-se recompensado e feliz pelo facto de o homem ter gostado do seu trabalho. Foi até à aldeia comprar mais couro para fazer novos sapatos e tudo o resto que sobrou foi para comprar alguma comida.

No caminho para a casa, o pequeno duende ia fazendo contas à vida, mas de tão satisfeito que estava, saltitava e cantarolava melodias antigas.

Quando chegou a casa, sentou-se logo na cadeira da mesa da sala e começou a martelar o couro, fazendo novos pares de sapatos e, como o cansaço era tanto, deixou-se vencer pelo cansaço e acabou por adormecer em cima da mesa.

Uns meses mais tarde, arrumou todo o calçado que tinha feito dentro de uma cesta antiga e saiu de casa em direção à aldeia. Chegado lá, montou uma pequena banca, junto do rio, e colocou tudo o que trazia no cesto em cima da banca. As pessoas iam passando e trocando algo de valor pelo calçado.

 Perto do anoitecer, passou um mendigo da aldeia, sem nada para comer, nem de calçar pela banca do duende e este, com pena e dor, ofereceu-lhe os seus últimos pares de sapatos e alguma comida.


             
Já em sua casa e feliz por ter vendido toda a mercadoria e ter ajudado o mendigo, o duende deu-se ao luxo, naquela noite, de ir dormir mais cedo, coisa que não era frequente, pois aproveitava sempre para tratar o couro. O negócio ia de vento em popa, fazendo cada vez mais sapatos para vender na aldeia, e quem sabe um dia voltar a ajudar alguém.

Martim, 8º E

Sem comentários:

Enviar um comentário