sexta-feira, 15 de junho de 2018

Viagem interplanetária


Viagem interplanetária



Naquela manhã de primavera o sol brilhava com uma intensidade fora do comum. Os campos estavam cobertos de flores, cujo aroma invadia o ambiente do autocarro que nos transportava até à escola. Quando chegamos, deparámo-nos com uma neblina muito cinzenta, que pairava sobre o campo de jogos. Entrámos, apressados e juntamo-nos à multidão de alunos, professores e funcionários, movidos pela curiosidade do que estava a acontecer.
Subitamente, o cinza carregado da neblina deu lugar a uma luz intensa, acompanhada de um barulho ensurdecedor. O chão estremeceu como se de um terramoto se tratasse, seguiu-se um silêncio e todos assistiam, incrédulos e paralisados, ao que estava a acontecer. A intensidade da luz diminuiu e, no meio do campo, conseguia agora distinguir-se um objeto estranho metalizado, de onde começaram a sair seres ainda mais estranhos. Eram minúsculas criaturas azuladas que pareciam muito agitadas.
Instalou-se o pânico e a maioria das pessoas fugiu, à exceção de nós os quatro. Ficámos a olhar para as criaturas e reparámos que estavam a perder a sua cor azul. Decidimos aproximar-nos delas.
Entretanto, devido aos poléns da época, Olívia espirrou e sentindo-se ameaçadas, as criaturas, começaram a correr na nossa direção. A meio da correria, os seres estavam a ficar lentos e fracos, caindo no chão.
Aproveitámos o avanço, corremos até ao pavilhão mais próximo e entramos numa  sala. A primeira coisa que fizemos foi barricar a porta com mesas e cadeiras. De repente, ouvimos um barulho vindo do armário, era o nosso professor António de Informática. Tal como nós, ele estava assustado e desorientado.
– As criaturas… As criaturas vão-nos fazer mal…- gaguejou o professor.
–Tenha calma, já barricámos a porta. Por agora estamos a salvo – retorquiu o Fábio.
– Professor, só por esta, merecemos a nota máxima no final do ano!- disse o Miguel, o brincalhão do grupo.
– Cala-te, não digas asneiras!- gritei-lhe.
–Tens razão, Paula, mas não precisas de gritar- interviu, o professor, já recomposto.
 Fábio empoleirou-se na janela e chamou os outros para verem o que se passava: estavam a aterrar mais objetos metalizados, no campo de jogos.
 O professor lembrou-se de ir pesquisar no computador, para tentar perceber o que se estava a passar.
Entretanto, alguém estava a tentar abrir a porta.
De repente, a sala foi invadida pelas criaturas e o Miguel foi capturado.
- Socorro! Ajudem–me! – implorou o Miguel.
Todos ficámos apavorados.
O professor António não obteve nenhum resultado na sua pesquisa, à exceção do nome das criaturinhas: Nepus. Então, resolvemos ir pesquisar na Biblioteca, mas o recreio estava repleto delas.
O professor lembrou-se que no armário havia umas latas de tinta azul e decidimo-nos pintar dos pés à cabeça, para passarmos despercebidos.
E assim foi. Conseguimos entrar na biblioteca.
Olívia puxou um livro da estante, onde se podia ler “Criaturas sobrenaturais”. Após uma leitura rápida, soubemos que os seres azulados vinham do planeta Nepónio e alimentavam-se da energia dos aparelhos eletrónicos.
Os Nepus aperceberam-se do movimento na biblioteca e decidiram aproximar-se.
            A Olívia e o Fábio continuavam a sua investigação e conseguiram apurar que a língua das criaturas era neponês, enquanto eu trancava a porta da biblioteca, o professor António ia vigiando, através da janela, e comentando a agitação de todos ligando discretamente para a Polícia.
            Os Nepus aproximaram-se da porta e vociferavam algumas palavras que nós não entendíamos. A sua voz era amigável e os gestos tranquilos. Agora, mais confiantes, decidimos abrir a porta. Entraram calmamente e um deles dirigiu-se a um computador  e começou a escrever vocábulos desconhecidos. O Fábio ligou o Google Tradutor e conseguimos perceber a mensagem: “Vimos em paz. O nosso planeta foi atacado e ficou completamente destruído. Precisamos da vossa ajuda.“
            A Olivia introduziu os dados no computador “Planeta Nepónio” e confirmou, de imediato que este se mantinha intacto. Começamos então a perceber que estavam a mentir. De repente, entrou o Miguel acompanhado por dois Nepus.
            – Os Nepus são amigos, não nos querem fazer mal. Eles precisam da nossa ajuda! – exclamou o Miguel.
            Da janela da biblioteca, eu observava o Labirinto, onde se escondiam centenas de Nepus muito agitados e, no centro estava o Miguel preso com uma corda. Fiz um gesto ao professor António. Ele ficou tão assustado como eu. Como era possível o Miguel estar em dois sítios simultaneamente?
 Então, pensei: “clonaram o nosso Miguel!”.  A minha cabeça ficou invadida de perguntas, para as quais não conseguia encontrar respostas: “por que motivo o prenderam?” “qual deles era o verdadeiro?”.  Só havia uma forma de descobrir: experimentar a sua piada favorita. Em tom de brincadeira perguntei-lhe:
– Por que é que o livro de Matemática se suicidou?
O “Miguel”, que estava na nossa presença, não percebeu a piada e  repetiu:
            – Os Nepus são amigos, não nos querem fazer mal. Eles precisam da nossa ajuda!
            Todos percebemos que se tratava de um impostor.
            Da janela da Biblioteca conseguíamos ver que a agitação aumentava. Havia centenas de Nepus espalhados pelo recinto da escola. Professores, alunos e funcionários corriam em direção ao portão principal. Ficamos mais tranquilos quando vimos vários carros da polícia, com  dezenas de agentes. Ouviu-se a voz de um, que falava ao megafone, apelando à calma. De forma mais ou menos ordeira, começaram todos a sair.
Lembrei-me então que a fonte de alimentação daquelas criaturinhas desprezíveis era a energia dos aparelhos electrónicos. Dirigi-me rapidamente ao quadro elétrico que estava na parede e desliguei todos os disjuntores.
Então, ficamos boquiabertos com o que vimos: de imediato, os dois Nepus e o intruso começaram a sucumbir. Corremos para a janela, só se viam Nepus prostrados pelo chão.
Agora a nossa missão era salvar o Miguel.

Em reunião, engendramos um esquema para libertar o Miguel das mãos dos Nepus. Rapidamente corri em direção ao refeitório para buscar qualquer objeto cortante. Procurei, rebusquei e encontrei, por entre os tabuleiros, uma faca. Depois corri para junto do grupo para dar início à libertação do Miguel.
 Furtivamente, a Olívia e o Fábio correram até ao labirinto, procuraram o Miguel e encontararam-no, solitário, num canto.
Rapidamente cortaram as cordas que o amordaçavam e correram a sete pés para a entrada. Mas… a farinha que o Fábio deitou no chão para servir de indicação desapareceu.
- E agora? Que fazemos?- perguntou desesperadamente a Olívia.
- Bem!!!... Não podemos entrar em desespero, pois ficamos sem ideias - respondeu o Fábio, fingindo alguma calma.
- E os Nepus??? E se acordam?- indagou, combalido o Miguel.
Então decidiram andar, mas só viam altas paredes, galhos partidos e pedregulhos algo gastos.
Estavam cansados. De repente, o Fábio reparou que, por entre uma brecha na parede, entrava uma ligeira brisa e uma luz ténue.
“Será uma passagem secreta?” – pensou o Miguel.
A Olívia, toda arrebitada gritou:
- Aqui há uma pequena saliência e uma porta entreaberta.
Espreitamos e… catrapúz! Caímos num pequeno riacho que ia dar a um ribeiro que circundava o labirinto.
-Estamos salvos! – gritou efusivamente a Olívia.
Entretanto, na escola, o ambiente era assustador: uma grande bola descia e irradiava um feixe de luz. Todos ficaram espantados, pois de dentro dela saiu o Rei Nepu, furioso e ordenou a todos os Nepus:
- Não cumpriram o prometido, seus inúteis! Regressemos!
Subiram a bordo e, ao som de um barulho estridente e de uma luz incandescente, desapareceram.
No entanto, já no ribeiro mal me podia mexer e gritei pelos meus amigos.
Era uma água azulada e pegajosa. Fiquei mais assustada, pois por mais que me mexesse estava a ser sugada. Logo deduzi que aquele ribeiro tinha areias movediças e ao tentarmos escapar, fomos puxados até ao fundo, ficando submersos.
Foi então que, do nada vimos uma luz muito reluzente. Era como um portal! Decidimos ganhar coragem e entrámos. Os nossos olhos foram invadidos por luzes brilhantes e tivemos de os fechar. Quando por fim os abrimos, vimos um mundo amarelo e lá ao fundo uma grande estrela.
- Onde estamos? –perguntou o Miguel.
-Eu acho que estamos… no planeta deles! – disse eu, assustada.
De repente, fomos rodeados por seres amarelos, com duas antenas e cinco olhos, que nos levaram a conhecer o seu Rei Dading.
Entrámos num edifício em que tudo tinha forma de estrela. Ao fundo estava o rei à espera de nos receber.
- Quem são vocês? – interrogou o rei, com voz ameaçadora.
- Nós… nós somos…do planeta Terra – balbuciou a Olívia.
- O que pretendem? – retorquiu o Rei Dading.
- Queremos regressar a casa e precisamos da vossa ajuda para combater os seres que nos invadiram – explicou o Fábio.
- Não me digam que foram os Nepus! – exclamou o rei.
- Sim, sim, essas criaturas! – respondeu prontamente o Fábio.
- Nós também estamos revoltados, pois eles já nos roubaram estrelas para produzirem energia- acrescentou o rei Dading.
Após uma longa conversa elaborámos um plano: partir em estrelas voadoras até ao planeta Nepónio e ensinar os Nepus a utilizarem a energia solar para sobreviverem.
Na escola, todos estavam preocupados com o desaparecimento de nós os quatro, pois apesar dos esforços de todos, não nos encontravam.
No planeta Terra o dia, já cansado de tanta agitação, preparava-se  para dar lugar à noite. À medida que esta ia conquistando o dia, na batalha cíclica em que ganhava um de cada vez, as pessoas iam ficando ainda mais preocupadas por não conseguirem encontrar os desaparecidos e nem sequer imaginavam onde poderiam estar. Muito mais preocupante para os humanos estava a ser o facto de não poderem ligar qualquer tipo de iluminação, para assim evitarem que os Nepus se alimentassem de energia. O planeta Terra, que à noite ficava todo iluminado, estava agora completamente às escuras.
No Planeta Amarelo, o Miguel e a Olívia aperceberam-se que as estrelas eram a fonte de vida daquele lugar. As estrelas forneciam-lhes tudo o que precisavam, para viverem em total harmonia, sem terem que mexer uma palha.
Pensaram, então, num plano que, se resultasse, poderia ser a solução para as três civilizações e decidiram falar com o Rei Dading.
- Majestade, eu e o Miguel pensamos que descobrimos a solução para salvar as nossas três civilizações, caso Vossa Majestade colabore para pormos o nosso plano em ação.
- Apresentem-me o vosso plano para que eu o possa avaliar e transmitir-vos-ei a minha decisão.
- Vossa Majestade tem estrelas suficientes que se podem reproduzir sempre que necessário e fornecer energia aos três planetas. Propomos-lhe que nos deixe viajar em duas delas e que ofereça uma à Terra e a outra a Nepónio. Depois, de acordo com as necessidades energéticas de cada planeta, elas irão reproduzir-se e os três planetas passarão a viver em paz e amizade para sempre. O rei Dading, após ouvir a proposta da Olívia e do Miguel, ordenou-lhes que se apresentassem perante ele, dali a uma hora, para lhes transmitir a decisão que tomara. À hora combinada, lá estavam os dois, para ouvirem a decisão do rei:
- Pensei bastante na vossa proposta e considero que ela será vantajosa para todos. Já ordenei a duas estrelas para vos transportarem de imediato e que fique uma na Terra e a outra vá para Nepónio. Com esta solução, os nossos três povos passarão a viver em paz.
Partimos para Nepónio, antes de aterrar na Terra e constatamos que esta solução foi bem aceite pelos Nepus.
Desde então, a amizade tem sido constante entre os povos e nós os quatro, a partir daí, passamos as férias escolares em Nepónio e ao Planeta Amarelo. Somos tratados como heróis, por termos salvo estes povos da guerra e destruição.

Trabalho realizado pelas turmas do 6º ano

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